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Uma aventura

FRANK GUGGENHEIM - Diretor do Greenpeace Brasil

O Globo on line14/4/2005

O Greenpeace é contrário à retomada do Programa Nuclear Brasileiro, que inclui a construção de Angra 3, assim como mais 80% da população brasileira, entrevistada na pesquisa que o Instituto de Estudos da Religião realizou em seis capitais brasileiras, no ano passado. A alta taxa de rejeição das usinas nucleares ocorre em todo o mundo. Usinas nucleares são caras. O Programa Nuclear Brasileiro já custou cerca de US$ 40 bilhões aos cofres públicos. Só Angra 1 custou US$ 6 bilhões. Angra 2 devorou outros US$ 14 bilhões. A Eletronuclear, estatal deficitária responsável pela operação das duas usinas, custa R$ 1 milhão ao dia ao contribuinte. Estima-se que as Indústrias Nucleares Brasileiras, outra estatal deficitária, represente um rombo similar ao da Eletronuclear. O déficit das duas empresas é coberto com a cobrança de subsídio à energia nuclear embutido nas contas de luz dos consumidores das regiões Sul e Sudeste do país. Usinas nucleares são ultrapassadas. Estão deixando de ser opção à geração de eletricidade em países como Alemanha, Espanha, Inglaterra e em partes dos EUA. “Vaga-lumes”, como são conhecidas devido às constantes paralisações por falhas técnicas, Angra 1 e Angra 2 produzem apenas 2% da eletricidade gerada no Brasil. Usinas nucleares são sujas e perigosas. Não só pelo lixo atômico que produzem e que permanece perigoso por milhares de anos, mas , também, pelo risco no transporte e de acidentes, como o de Chernobyl e Three Miles Island, só para citar alguns. O que está em jogo não é apenas a construção de uma obra de bilhões de dólares, disputada por grandes construtoras e defendida por alguns militares e funcionários estatais do setor. Por trás de Angra 3 está o sonho de retomada do Programa Nuclear Brasileiro, a chamada “aventura nuclear” idealizada durante os “anos de chumbo”. Por trás de Angra 3 está o projeto do submarino nuclear, conhecido como a mais cara maquete do mundo e que, após ter consumido 10 anos de estudos e US$ 1 bilhão em investimentos, precisará, agora, de outros 10 anos de trabalho e mais US$ 1 bilhão. Por trás de Angra 3 está o processo de enriquecimento de urânio que levará 70 anos para amortizar o investimento realizado. Por trás de Angra 3 está a proliferação do risco da radiação pelo país, com a implantação de pequenos reatores nucleares no Norte e Nordeste. O Greenpeace acredita que a vocação brasileira está nas fontes renováveis: hidrelétrica, eólica, solar e biomassa. Essas fontes renováveis geram energia barata, limpa e segura.