Belo Monte
O projeto da hidrelétrica de Belo Monte está maduro e deveria ser
incluído nas licitações que o governo pretende realizar este ano para
escolha de investidores interessados em novas usinas. Belo Monte, em sua
primeira etapa, terá potência instalada de 5.000 megawatts, mais do que
a soma da capacidade das 17 usinas já listadas. Além disso, o custo é,
por larga margem, o mais baixo.
Belo Monte ficará na chamada volta do Rio Xingu, junto ao trecho
paraense da Transamazônica. Para a hidrelétrica ser construída, é
necessário um decreto legislativo que autorize a obra, pois os canais
que conduzirão a água até as casas de força (serão duas, em locais
diferentes) tangenciam uma reserva indígena — que pode ser compensada,
sem prejuízos para a tribo local, como ocorreu no caso de Serra da Mesa,
em Goiás.
Já incluído o investimento nas linhas de transmissão, o custo estimado
para a primeira fase de Belo Monte seria de R$ 19 por megawatt, enquanto
nas demais a serem licitadas os valores passam de R$ 30.
A usina de Belo Monte terá condições de suprir o aumento de demanda no
Nordeste, aliviando o Centro-Sul, que tem transferido energia para lá
quando os reservatórios do Rio São Francisco estão mais vazios. Os
impactos socioambientais da construção da usina foram mensurados e
exaustivamente discutidos por quem entende, ou nada entende, da questão.
Altamira e outros 15 municípios paraenses aguardam essa obra com
ansiedade, seja pelas compensações que deverão receber (as exigências
para execução do projeto incluem ampliação de escolas e hospitais,
construção de casas e pavimentação de ruas nas cidades próximas), seja
pela absorção de mão-de-obra que hoje está subempregada na região. Se a
usina for licitada este ano, em 2009 as primeiras turbinas estarão
funcionando.
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Ainda que a Petrobras tenha encontrado boas reservas de óleo leve no
Espírito Santo (e também em Sergipe), o petróleo pesado continuará por
muito tempo respondendo pela maior parte da produção da companhia. A
participação do petróleo pesado até aumentará nos próximos cinco a seis
anos, pois já estarão em plena operação as plataformas gigantes
encomendadas para os campos de Marlim, Marlim Sul e Roncador, na Bacia
de Campos. Além disso, foram descobertos reservatórios potencialmente
comerciais de óleo pesado na Bacia de Santos.
Como as refinarias nacionais estão quase no limite de sua capacidade
para processar esse óleo pesado, grande parte da produção se destinará à
exportação. A não ser que a Petrobras e seus futuros parceiros acelerem
os projetos de construção de outras refinarias. A primeira, em fase de
negociação, terá um perfil diferente das demais, pois basicamente será
voltada para a produção de insumos petroquímicos — e também de diesel,
do qual o Brasil continua muito deficitário.
Essa “refinaria petroquímica” possivelmente ficará em Itaguaí, porque lá
existe uma área reservada a esse fim, com macrodrenagem concluída e
estudos de impacto ambiental adiantados. É o chamado meio caminho
andado.
Uma segunda refinaria terá de ser construída, ou então a Petrobras terá
de ampliar suas parcerias no exterior para refinar óleo pesado. Somente
assim, evitará que o aumento da oferta derrube os preços desse tipo de
petróleo no mercado internacional.
As novas refinarias se tornaram, então, uma questão estratégica para a
Petrobras. O retorno do investimento nessas instalações não é dos mais
atrativos, mas sem elas a companhia perderá muita receita com o óleo
pesado. A discussão política virou coisa do passado e, atualmente, a
questão é essencialmente econômica.
O
Globo 14/2/2005 |